Para entendermos o conceito de Exposição Interpretativa precisamos, antes de tudo, refletir sobre outras questões, como por exemplo:
- As exposições que desenvolvemos respondem a perguntas que nada formulam?
- Estão cheias de ‘informação’, mas com informações tão específicas, científicas e/ou técnicas? De modo que dificultam o entendimento dos usuários enquanto ao tema?
- Investimos dinheiro em exposições bonitas, tecnológicas e/ou majestosas, mas os usuários parecem não aprender algo nela, sendo que o objetivo da exposição em questão é de que os usuários aprendam algo?
Se a resposta a estas perguntas é sim, então não estamos planejando exposições ‘interpretativas’.
Não raro, percebemos que muitas exposições se denominam “interpretativas”, sem que realmente “interpretem ”. São comuns exposições que apenas apresentam a informação sem refletir ou instigar o usuário a uma reflexão sobre o tema exposto. Isso ocorre devido a falta de conhecimento acerca do tema e sobre como se faz uma exposição interpretativa. Em função disso, precisamos delimitar o que entendemos por exposição e por interpretação.
Conceito de Exposições e Interpretativo
Acreditamos no conceito de que uma exposição é um conjunto de suportes informacionais projetados, desenhados, fabricados e montados num espaço definido, organizados de forma que almejam alcançar o objetivo traçado no momento de planejamento da exposição (Projeto Expográfico). BAUER (2014), diz que Uma exposição museológica é antes de tudo a construção de um espaço que pode ser comparada com a tarefa de se escrever um texto; é a soma dos esforços e propostas que procuram estabelecer uma composição rítmica a um discurso preexistente, entendendo os seus processos de concepção e de montagem enquanto um eixo comunicacional dividido entre a fundamentação das ideias, a produção imagética e a sua extroversão. Leia mais sobre Expografia, a escrita da exposição, nesse outro texto aqui.
Em relação a interpretação, o conceito que utilizamos como definição é que a interpretação é um processo de comunicação, desenhado para revelar significados e promover relações com o patrimônio cultural, natural e imaterial, para o usuário, através de experiências de primeira mão com objetos, artefatos, paisagens, lugares, memórias, sons, imagens entre outros, pois compreendemos que com o propósito de que ocorra a interpretação precisamos tornar possível a comunicação, buscando adaptar a linguagem de forma a facilitar a compreensão do usuário.
Sabemos que tais conceitos podem ser confundidos com exposições informativas, embora não sejam; então o que difere uma exposição interpretativa de uma exposição informativa?
O diferencial da Exposição Interpretativa
As exposições interpretativas estão preocupadas na relevância significativa que podem desencadear na vida do usuário, seja através da contribuição para a contínua construção de conhecimentos, experiências, reflexões, entre outros. Esses tipos de exposições estão focadas e necessitam da troca de experiências dos usuários. Entende que os usuários fazem com que a exposição “tenha vida“, isso acontece através da participação ativa que ela manifesta.
Para tanto, a exposição interpretativa deve buscar:
- Aplicar técnicas e princípios interpretativos, como por exemplo ter claro quais conceitos de interpretatividade serão utilizados;
- Provocar o interesse ou a atenção do usuário, visando a participação ativa deste;
- Relacionar-se com a vida cotidiana do usuário, explanando a aproximação com a realidade deste;
- Revelar o conceito principal num final único e/ou criativo;
- Abordar o todo – ilustrar o tema interpretativo principal na exposição;
- Buscar a unidade na mensagem, usando elementos de identidade visual da exposição que ajudem a definir o tema principal;
- Ser objetivo e basear-se em resultados, como por exemplo ter objetivos de aprendizagem, emocionais, afetivas, etc;
Além disso, a equipe responsável pelo Projeto Expográfico da exposição interpretativa deve fazer e refletir sobre as seguintes questões:
- Quais as razões que fariam com que um usuário tivesse interesse em deslocar-se até a exposição?
- De que forma podemos “provocar” o usuário de maneira de que ele participe e interaja com a exposição?
- Como o usuário utilizará as informações expostas na exposição? Em outras palavras, qual será o resultado esperado da exposição – objetivando aprendizagem, estabelecer vínculos emocionais, afetivos, entre outros?
Estas questões não têm uma resposta correta e tão pouco garantem o sucesso ou alcance dos objetivos elaborados. São classificadas como perguntas basilares para a reflexão e estruturação da exposição interpretativa. Auxiliando, assim, no planejamento desta e acarretando numa exposição melhor elaborada e analisada.
Carga da Exposição
Não podemos ignorar que cada usuário traz consigo sua história, memória, lembranças, vivências, experiências podendo isso influenciar diretamente na fruição deste na exposição. Ademais, o tempo disponível que cada um dispõe para o lazer deve ser mensurado, enquadrando aqui a exposição como parte desse momento. A avaliação da exposição interpretativa pela equipe responsável – entendidos enquanto usuários, buscando perceber a quantidade de tempo necessária para percorrer a exposição, a utilização das cores, iluminação, sons, identidade visual, linguagem, das atividades, etc. Essas questões, são chamadas de “carga da exposição”. Meio utilizado para descobrir a quantidade de tempo e energia que o usuário precisará dispor para completar a exposição num todo.
Por exemplo, imagine que o usuário entra na exposição com 100% de entusiasmo, interesse e emoção. Na medida em que se desloca pela exposição a energia e o interesse começam a decair. Isso acontece, normalmente, devido a quantidade de informações e estímulos oferecidos a ele. Dentro de cerca de 45 minutos, este estará tão cansado que dirigir-se-á, sem terminar a experiência da exposição, à loja do museu, ao café, ou ainda à saída.
Porém, existem diversos tipos de exposições interpretativas, com variados níveis de “carga”. Que podem auxiliar no planejamento da exposição, deixando-a interpretativa sem ser cansativa.
Buscando classificar e equilibrar essas “cargas” e exposições, exemplificamos abaixo algumas delas.
Exposição “Tipo 1”
Exposição em movimento, onde o usuário se movimenta realizando alguma atividade interativa. Por exemplo, interagir com um animal, ou realizar alguma atividade informática.
Exposição “Tipo 2(a)”
O usuário pode realizar alguma atividade, mas a exposição é inerte. Por exemplo, colocar a mão sobre uma superfície tátil ou tocar na pele de um animal.
Exposição “Tipo 2(b)”
O usuário é passivo, somente observa, a exposição faz todo o trabalho. Por exemplo, transmitir vídeo, expor um animal num zoológico, aquário, habitat natural, ou exibir um esqueleto dele.
Exposição “Tipo 3”
O usuário e a exposição são passivos. O usuário não interage com a exposição e a exposição não dá a possibilidade de interação com o usuário. Os objetos estão dispostos em vitrines, há os recursos de linguagem visual, identidade da exposição entre outros.
Fale Conosco Agora via WhatsApp
Estudos mostram que as pessoas se interessem e dispõem-se mais pelas exposições que revelam uma troca mútua com o usuário. Ou seja, exposições como os tipos 1, 2(a) e 2(b). Visto que são as que mais oferecem estímulos de forma dinâmica e variada (USDA Design Office Research Report – Callifornia 1996). Sabemos que uma exposição pode ser classificada como tipo 1 ou tipo 3, porque exposições são híbridas. Assim como os tipos de carga de exposições classificados acima. Dessa forma uma exposição pode ter os 4 tipos de “carga”, em diferentes módulos e momentos.
Sabemos que planejar e executar exposições interpretativas demandam de comprometimento verdadeiro e quase que exclusivo da equipe responsável. Sem contar todas as questões de pesquisas, seleções, análises, reflexões, treinamento e trabalho, muito trabalho. Isso sem levar em contar a manutenção do espaço e dos recursos utilizados, ainda temos os pontos diferenciais de exposições interpretativas que envolvem a constante mudança da exposição, pois, semelhante ao conceito de museu participativo, as exposições interpretativas influenciam e são influenciadas pelos usuários, evidenciando e fortalecendo o ciclo exposições – usuários e usuários – exposições.