O conceito de Museu 2.0 foi proposto pela diretora do Museu de Arte e História de Santa Cruz (Califórnia/EUA), Nina Simon, autora do livro The Participatory Museum. A autora propõe uma participação ativa nos museus, mais dinâmico, intuitivo e interativo. O Museu 2.0 não tem públicos nem visitantes, mas sim, usuários. Nesse sentido, o Museu 2.0 explora as maneiras que os museus fazem e podem evoluir de 1.0 (máquinas enunciadoras de conteúdos estáticos) para 2.0 (associação de conteúdo dinâmico e máquinas em rede).
Comparado o museu com a web, observamos como esta possui uma capacidade de evolução rápida e constante. A Web mostrou que uma maneira de manter uma plataforma de exibição de conteúdo atual é envolver seus usuários como participantes significativos em vez de destinatários passivos desse conteúdo. Os museus ainda não são assim flexíveis ou participativos quanto a Web se tornou. Afinal, eles devem ser? Se sim, quais seriam as possibilidades e os desafios para se criar “uma arquitetura de participação”?
Mas afinal, o que é o Museu Participativo?
O Museu Participativo tem sido descrito como um “futuro clássico da museologia”, onde a obra The Participatory Museum se mostrou um “guia indispensável”, não apenas um bom livro para ler. Trata-se de um guia prático para trabalhar com membros da comunidade e usuários para tornar as instituições culturais mais dinâmicas, relevantes e essenciais.
No final de 2009, o National Endowment for the Arts publicou um relatório sobre os museus e seus visitantes, concluindo que “os resultados do inquérito de 2008 são, num ápice, decepcionantes“. Salientou, ainda, que nas últimas décadas, o número de visitação em museus, galerias e instituições culturais diminuiu. No revés disso, as instituições argumentavam que seus programas ofereciam valor cultural e cívico, mas reconheciam que cada vez mais as pessoas se voltavam para outras fontes de entretenimento, aprendizado e diálogo. Como exemplo, citavam que a Web era agora a plataforma de compartilhamento de arte, músicas e história. Apontavam, ainda, que os usuários da Web participavam de questões políticas e de voluntariado em números recordes, além de serem bons leitores. Todavia, os usuários da Web não frequentavam exposições em museus, como antes costumavam fazer.
Como tornar o Museu 2.0?
Como as instituições culturais podem se reconectar com o público e demonstrar seu valor e relevância na vida contemporânea? Convidando as pessoas a participar ativamente como participantes culturais, e não os consumidores passivos.
À medida que mais pessoas gostam e se acostumam às experiências de aprendizado participativo e de entretenimento, elas querem fazer mais do que apenas “visitar” eventos e instituições culturais. A Web social introduziu um conjunto vertiginoso de ferramentas e padrões de design que tornam a participação mais acessível do que nunca. Seus usuários esperam acesso a um amplo espectro de fontes de informação e perspectivas culturais. Eles esperam a capacidade de responder e ser levado a sério. Eles esperam a capacidade de discutir, compartilhar e remixar o que consomem. Quando as pessoas podem participar ativamente com instituições culturais, esses lugares tornam-se centrais para a vida cultural e comunitária.
O Museu Participativo aborda algumas técnicas para instituições culturais promoverem a participação dos seus usuários. O envolvimento da comunidade é especialmente relevante em um mundo de oportunidades participativas crescentes na Web social, mas não é novo. A participação de visitantes em instituições museológicas datam desde metade do Século XVIII, quando surgiram as primeiras coleções públicas.
O Museu 2.0 – ou Museu Participativo, tem três princípios basilares:
- A ideia da instituição centrada no público, que é tão relevante, útil e acessível como um shopping center ou estação de trem.
- A ideia de que os visitantes construam seu próprio significado de experiências culturais.
- A ideia de que as vozes dos usuários podem informar e dinamizar tanto o projeto do projeto como os programas voltados para o público.
Uma instituição cultural participativa pode ser definida como um lugar onde os usuários podem criar, compartilhar e conectar uns com os outros em torno do conteúdo.
Criar significa que os visitantes contribuem com suas próprias ideias, objetos e expressão criativa para a instituição e vice-versa. Compartilhar significa que as pessoas discutem, levam para casa, reinterpretam e redistribuem o que veem e o que fazem durante a visita. Conectar significa que os visitantes se socializam com outras pessoas – funcionários e visitantes – e compartilham seus interesses particulares, mas também coletivos.
Em torno dos conteúdos, as conversas e criações dos visitantes se concentram nas evidências, objetos e ideias mais importantes para a instituição em questão. O objetivo dessas técnicas participativas é atender às expectativas dos visitantes para um envolvimento ativo e fazê-lo de forma a promover a missão e os valores fundamentais da instituição. Em vez de entregar o mesmo conteúdo a todos, uma instituição participativa coleta e compartilha conteúdos diversos, personalizados e em constante mudança, co-produzidos com os visitantes.
O Museu 2.0 convida os visitantes a responder e adicionar artefatos culturais, evidências científicas e registros históricos em exibição. Ele exibe as diversas criações e opiniões de não-especialistas, mas de especialistas também. As pessoas usam a instituição como base para o diálogo sobre o conteúdo apresentado. Em vez de ser “sobre” algo ou “para” alguém, instituições participativas são criadas e gerenciadas “com” os usuários.
Por que o Museu 2.0 quer convidar visitantes para participar?
A participação é uma estratégia que aborda problemas específicos. Todavia, as estratégias participativas devem ser compreendidas como formas práticas de melhorar, e não substituir, os museus tradicionais.
Abaixo, listamos cinco enunciados recorrentemente expressados por insatisfação de usuários, os quais poderiam serem abordados por meio de técnicas participativas:
- As instituições culturais são irrelevantes para a minha vida. Ao solicitar e responder ativamente às ideias, histórias e criatividade dos seus usuários, os museus podem ajudar o público a investir pessoalmente tanto no conteúdo quanto na saúde da organização.
- A instituição nunca muda. Ao desenvolver plataformas nas quais os visitantes podem compartilhar ideias e conectar-se uns com os outros em tempo real, aos museus podem oferecer experiências em mutação sem incorrer em custos de produção de conteúdos contínuos.
- A voz autoritária do museu não inclui minha visão ou me dá um contexto para entender o que é apresentado. Ao apresentar várias histórias e vozes, os museus podem ajudar seus usuários a priorizarem e compreenderem sua própria visão no contexto de diversas perspectivas.
- O museu não é um lugar criativo onde eu possa me expressar e contribuir para a história, a ciência e a arte. Ao convidar os usuários a participarem, os museus podem apoiar os interesses daqueles que preferem fazer ao invés de apenas assistir.
- O museu não é um lugar social confortável para eu falar sobre ideias com amigos e estranhos. Ao projetar oportunidades explícitas para o diálogo interpessoal, os museus podem se distinguir como locais desejáveis do mundo real para discussão sobre questões importantes relacionadas ao conteúdo por ele apresentado.
Estes cinco enunciados, mesmo que desafiadores, são todas as razões para prosseguir a participação, seja na escala de um único programa educacional ou de toda a experiência do usuário. O desafio – e o foco do Museu Participativo – é como fazê-lo. Ao prosseguir com técnicas participativas que se alinham com os valores fundamentais institucionais, é possível tornar o museu uma instituição ainda mais relevante e essencial para as suas comunidades.
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Para saber mais, acesse este outro texto que traduzimos do livro The Participatory Museum, Nina Simon: