O Que é Museologia?

O Que é Museologia?

Museologia é a ciência que trata dos museus, especialmente no que se refere a sua organização e funcionamento. Ela trata do “pensar-se o museu”. A Museologia pode ser considerada uma disciplina contemporânea por ter se instituído principalmente a partir da segunda metade do século XX e que era entendida, inicialmente, como um ramo do conhecimento voltado para os objetivos e organização dos museus. (BAUER, 2014)

Embora o fenômeno museu tenha surgido bem antes da própria museologia, a ideia e o entendimento recorrentes do que pode ser um museu estão intrinsecamente associados à sua cadeia operatória, compreendida na conjunção da tríade objetocoleção exposição. Assim, a Museologia pode ser entendido como a ciência que pensa o museu envolvendo esses três processos em um contexto social alicerçado e situado cultural e socialmente.

A Museologia é um campo de conhecimento que vem se constituindo e se construindo por seus contextos socioculturais. É uma ciência que vem ganhando importância entre as ciências humanas – Ciências Sociais Aplicadas. Todavia, por ser uma ciência recente, a museologia ainda carece de maior precisão terminológica, para assim ser reconhecida nas interfaces com outras ciências – e esta é uma realidade tanto brasileira, como mundial. (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013)

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Museologia: Algumas Definições

O International Council of Museums (ICOM) lançou, em 1993, sob a supervisão de André Desvallés, e com a colaboração de Francois Mairesse a partir de 2005, o Dicionário de Museologia. A publicação sintetiza décadas do desenvolvimento do conhecimento a partir de uma investigação sistemática, tanto da epistemologia quanto da etimologia do museu, e oferece uma apresentação aprofundada dos conceitos primários da museologia atual, com uma visão pragmática elegante, que considera tanto as redundâncias históricas quanto as controvérsias  atuais, investindo no crescimento e na expansão da museologia como uma ciência dos e para os museus.

Etimologicamente, a museologia é “o estudo do museu” e não a sua prática – que remete à “museografia” –, mas tanto o termo, confirmado nesse sentido amplo ao longo dos anos 1950, como o seu derivado “museológico” – sobretudo em sua tradução literal em inglês (museology e seu derivado museological) – apresentam cinco acepções bem distintas.

1. Museologia é Tudo o que Diz Respeito ao Museu

Essa tem sido a definição mais disseminada para definir a Museologia. Nessa acepção, o termo “museologia” é entendido como tudo aquilo que toca ao museu e que remete, geralmente, no dicicionário, ao termo “museal”.

2. Museologia é o Estudo do Museu

Essa definição geralmente é utilizada em grande parte pelo meio universitário, num sentido de aproximação com a etimologia do termo “museologia”, que diz respeito ao “estudo do museu“.  Nesse contexto, evidencia-se a definição proposta por George Henri Rivière:  “Museologia: uma ciência aplicada, a ciência do museu. Ela o estuda em sua história e no seu papel na sociedade, nas suas formas específicas de pesquisa e de conservação física, de apresentação, de animação e de difusão, de organização e de funcionamento, de arquitetura nova ou musealizada, nos sítios herdados ou escolhidos, na tipologia, na deontologia” (RIVIÈRE, 1989).

Nessa acepção, a museologia se opõe , de certo modo, à museografia, mais utilizada para designar o conjunto de técnicas e práticas ligadas à própria museologia.  nesse sentido, pode-se observar que, em países anglo-americanos costuma-se a utilizar os termos museum studiesmuseography, sendo que o termo museology é, ainda, pouco empregado.

3. Museologia é uma ciência que examina a relação entre o homem e a realidade e se materializa no fenômeno museu

A partir da década de 1960, a museologia passou a ser progressivamente considerada como um campo científico de investigação do real e também como uma disciplina independente. Nessa perspectiva, a museologia foi entendida como o estudo de uma relação específica entre o homem e a realidade e tem no museu uma das materializações possíveis dessa ciência.

“A museologia é uma disciplina científica independente, específica, cujo objeto de estudo é uma atitude específica do Homem sobre a realidade, expressão dos sistemas mnemônicos, que se concretiza por diferentes formas museais ao longo da história. A museologia tem a natureza de uma ciência social, proveniente das
disciplinas científicas documentais e mnemônicas, e ela contribui à compreensão do homem no seio da sociedade.” (STRÁNSKÝ, 1980)

Essa abordagem foi voluntariamente criticada, vista como pretensiosa por impor a museologia como uma ciência que abarcaria todo o campo do patrimônio. todavia, essa acepção gerou discussões foram fecundas, originando, inclusive, o termo “musealidade”, para designar a “relação específica do homem com a realidade”. Ou seja, a museologia passa a ser compreendida como  “uma ciência que examina a relação específica do homem com a realidade, consiste na coleção e na conservação, consciente e sistemática, e na utilização científica, cultural e educativa de objetos inanimados, materiais e móveis (sobretudo tridimensionais)
que documentam o desenvolvimento da natureza e da sociedade” (GREGOROVÁ, 1980).

4. A Escola da Nova Museologia

A Nova Museologia influenciou amplamente a museologia dos anos 1980, iniciando-se na França e, posteriormente, a partir de 1984, difundiu-se internacionalmente, a partir da Declaração de Quebec. A partir de então, enfatizou-se a vocação social dos museus e seu caráter interdisciplinar, o mesmo tempo que chamou a atenção para modos de expressão e de comunicação renovados.

A Nova Museologia estava centrada, sobretudo, no interesse por novos tipos de museus concebidos em oposição ao modelo clássico do museu. Começaram a surgir os ecomuseus, os museus de sociedade, os centros de cultura científica e técnica, enfatizando que, essas novas proposições de museus visavam á utilização do patrimônio em benefício do desenvolvimento local.

A Nova Museologia se apresentou como um discurso crítico sobre o papel social dos museus. Todavia, há uma vasta incompreensão sobre essa acepção. Notadamente, tem se confundindo as definições de Nova Museologia e Ecomuseologia,  bem como de Museologia Social Museu Integral, este último, apresentado em 1972, na Declaração da Mesa Redonda de Santiago do Chile.

5. A Museologia é um Campo de Teoria e Reflexão Crítica

Essa definição, aqui englobada por todas as outras, trata-se de m campo muito vasto que compreende o conjunto de teorias e reflexões crítica ligadas ao universo dos museus. A museologia passa a ser denominada como uma relação específica entre o homem e a realidade, caracterizada como a documentação do real  pela apreensão sensível direta. Nesse sentido, diferente das demais acepções, essa não rejeita qualquer forma de museu, uma vez que ela tende a se interessar por um domínio voluntariamente aberto a qualquer experiência sobre o campo museal.

A museologia, seria portanto, uma ciência crítica e teórica protagonizada não somente pelos museólogos, mas sim, por diferentes áreas do conhecimento, de caráter interdisciplinar.

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A Museologia é Uma Ciência do Campo Expandido

O conceito de “campo expandido” foi apresentado pela primeira vez por Rosalind Krauss, em 1979, no artigo “Sculpture in the Expanded Field”. Nele, a autora tentava definir um novo tipo de práxis, difícil de ser enquadrado no termo “escultura”, que estava se tornando “infinitamente maleável”. Diferentemente da atitude modernista, pautada no desejo de ruptura e negação das escolas e movimentos anteriores para propor o novo, o “campo expandido” designaria outro tipo de estratégia. (QUILICI, 2014)

Para a Museologia, o campo expandido (ou campo ampliado) se daria, portanto, a partir dos momentos históricos mais recentes, não negando sua própria evolução epistemológica e etimológica, mas sim, aglutinando a ela os conceitos mais recentes da Nova Museologia. Ou seja, a museologia enquanto campo expandido trata-se de uma ciência  amalgamada com outras ciências, tais como a História, a Sociologia, a Filosofia, a Antropologia, entre outras. A junção de distintas ciências permitiu à Museologia condições que proporcionaram sua mudança até como a conhecemos hoje, estruturando-a como um campo de conhecimento teórico e prático.

Em sentido metafórico, o campo expandido serve para ilustrar as potencialidades interdisciplinares da museologia e a sua capacidade de incorporar linguagens provenientes de outras ciências. Entendido desta forma, a museologia se constitui, para além de uma disciplina e de uma ciência com resultados, como um domínio de experimentação ou de ideação, transversal a muitas práticas profissionais.

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Referências:

BAUER, Jonei Eger. A Construção de um Discurso Expográfico: Museu Irmão Luiz Godofredo Gartner.UFSC: Florianópolis, SC, 2014. 117 p.

DESVALLÉES, André; MAIRESSE, François (Ed.). Conceitos-chave de Museologia. Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus, 2013.

GREGOROVÁ, Anna. La muséologie–science ou seulement travail pratique du musée. MuWoP/DoTram, v. 1, p. 19-21, 1980.

QUILICI, Cassiano. O campo expandido: arte como ato filosófico. Sala Preta, v. 14, n. 2, p. 12-21, 2014.

RIVIÈRE, Georges Henri et al. La muséologie selon Georges Henri Rivière: cours de muséologie: textes et témoignages. Dunod, 1989.

STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Museology as a Science (a thesis). Museologia, n. 15, 1980.

Publicado por na(as) categoria(as) Museu, Triscele.

Museólogo com mestrado em Turismo e Hotelaria. Desenvolve consultorias e pesquisas relacionadas a Serviços Turísticos, Planejamento do Turismo, Desenvolvimento Local e Turismo Cultural. Na área de Museologia, atua principalmente nos seguintes temas: Gestão Museológica, Design Gráfico, Expografia e Documentação Museológica. Pesquisa estudos em Patrimônio Imaterial, Patrimônio Industrial e Patrimônio Alimentar.

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